Como melhorar o listening?
- Daniel Pamplona
- 11 de ago. de 2024
- 8 min de leitura
Atualizado: 10 de jan.

Começo este post com uma confissão: apesar de ser um mestre em "air guitar" como o amigo da foto acima, sempre fui péssimo em entender músicas em inglês. Até hoje não sei a letra de muitas delas, mesmo tendo-as ouvido ao longo de décadas (em 1997, ganhei o álbum “Nine Lives”, do Aerosmith, cuja faixa mais famosa, “Fallin’ in Love is Hard on the Knees”, eu continuo sem saber cantar do início ao fim). Eu ficava furioso quando comprava um CD e o encarte não vinha com as letras (como no caso do supracitado “Nine Lives”), pois sabia que aquela ausência significaria meses (ou mesmo anos) de ignorância em relação ao que eu estava cantando.
Essa dificuldade com a compreensão de músicas não era um fenônemo isolado. O fato é que, em dado momento da minha formação em inglês, a habilidade de escuta (listening) foi um grande desafio a superar. Ao atingir um nível alto-intermediário e tentar os primeiros exames de proficiência, minhas piores notas foram justamente nas partes de listening e speaking, contrastando com as habilidades escritas (reading e writing), nas quais minha performance era superior. Foi necessário um trabalho focado em listening para que eu pudesse fechar aquela lacuna e me sentir mais confiante em relação à minha habilidade de escuta (embora a vida adulta ainda me reservasse alguns “perrengues linguísticos”, como contarei abaixo).
Hoje, após 20 anos trabalhando como professor de inglês, percebo que minha dificuldade com o listening era menos exceção do que regra. Para a maioria dos(as) estudantes, compreender a linguagem oral é um enorme desafio e, muitas vezes, uma fonte de frustração, pois parece pôr em xeque nosso conhecimento de inglês. Soma-se a isso o fato de não sabermos exatamente como desenvolver essa habilidade (assistir filmes e séries em inglês não é o bastante, como discutirei ao fim deste post) e temos uma situação de difícil resolução.
Neste post, quero discutir os fatores que fazem do listening uma habilidade tão desafiadora. Em seguida, apresentarei recursos e exercícios que você pode fazer para desenvolver esta habilidade. Por fim, falarei um pouco sobre filmes e séries e se estas mídias são eficientes para melhorar o listening.
Por que listening é tão difícil?
Velocidade da fala
Há diversas razões que podem tornar uma conversa em inglês difícil de compreender. A primeira que costuma vir à mente das pessoas é a velocidade da fala. Temos aquela sensação de que as palavras se juntam umas às outras e não sabemos onde uma começa e a outra acaba. Especialmente para falantes nativos, cuja aquisição do idioma se dá de forma espontânea nos anos iniciais de vida, falar e ouvir o idioma é algo natural, quase como andar ou fazer qualquer movimento corporal básico. Disso resulta uma fala mais veloz, que, embora de difícil compreensão para pessoas estrangeiras, é o padrão natural para falantes nativos. (Devo acrescentar, no entanto, que isso não é exclusividade do inglês ou de qualquer idioma específico. Os estrangeiros que estudam português têm exatamente a mesma sensação de que nós, brasileiros, falamos muito rápido.) No vídeo abaixo, você poderá notar a rapidez da fala dos atores Daniel Radcliffe e James McAvoy. Eles estão conversando sobre sua relação com fãs e como alguns podem ser um tanto rudes. Além disso, tente perceber as diferenças de sotaques (Radcliffe é de Londres, enquanto McAvoy é escocês, nascido em Glasgow). Discutiremos a questão dos sotaques na sequência.
Sotaques
Como você pode ter percebido no vídeo acima, outro fator que costuma causar grandes dificuldades é o sotaque. Como em qualquer idioma, há milhares deles em inglês, e até que se construa familiaridade com um dado modo de falar, o pensamento que temos ao ouvir um sotaque diferente é de que “a pessoa não está falando inglês”. Se você já sentiu a frustração de não entender alguém, não se preocupe: eu mesmo já vivenciei (e ainda vivencio) essa situação, mesmo sendo professor de inglês e tendo dedicado décadas ao estudo do idioma. Cito como exemplo uma interação que tive em 2008, durante meu intercâmbio para a Irlanda (àquela época, eu já trabalhava como professor de inglês e já havia feito os mais avançados exames de proficiência existentes). Nos meus primeiros dias em Dublin, fui comprar um telefone celular na Grafton Street, famosa rua comercial da capital irlandesa. Entrei na loja da rede Vodafone, dei uma olhada nos aparelhos disponíveis e abordei a vendedora, pedindo-lhe para me explicar as diferentes opções de planos. O que aconteceu em seguida foi ao mesmo tempo cômico, surreal e frustrante. Por sabe-se lá quanto tempo (pode ter sido um minuto ou vinte), eu a ouvi falar numa velocidade assombrosa, num desconhecido e áspero sotaque, sem que eu entendesse UMA palavra sequer! Com medo de demonstrar o quão perdido eu estava, escolhi um aparelho e um plano, não por qualquer razão específica que ela tivesse explicado, mas simplesmente porque era o mais barato (se aquele plano incluía cláusulas como “o adquirente dará um rim como garantia”, eu assinei mesmo assim). Saí da loja rindo, mas ao mesmo tempo com certa crise existencial. Afinal, euzinho, então professor de inglês e aprovado em respeitáveis exames de proficiência, acabara de comprar um celular completamente às cegas, sem entender absolutamente nada da explicação que a vendedora me dera.
Para conhecer mais sobre diferentes sotaques de inglês ao redor do mundo, o vídeo abaixo faz uma excelente compilação.
Tema da conversa e vocabulário relacionado
Um terceiro elemento complicador do listening é o assunto em pauta, cujo vocabulário pode ser desconhecido para o ouvinte. Nessa situação, escutamos uma grande quantidade de palavras cujo significado não conhecemos e, como resultado, não conseguimos construir a compreensão do que está sendo discutido. Vou tomar como exemplo uma experiência que estou vivendo. Recentemente, comecei a assistir uma série sobre futebol americano. Meu conhecimento do jargão do esporte se resume aos termos mais básicos, como touchdown e quarterback. Por esse motivo, embora eu consiga entender a maioria das falas, não tenho o mesmo nível de compreensão quando os jogadores e técnicos começam a descrever ações e jogadas específicas, simplesmente porque me falta o vocabulário para isso.
Gramática
Uma dificuldade semelhante àquela apresentada pelo vocabulário é a falta de conhecimento da gramática do idioma. Imaginemos o seguinte diálogo:
“Hey, Tom. What are you going to do about your car?”
“Hey, Tina. To be honest, I’m not sure. I think I’m going to sell it.”
Para entender que a conversa acima se refere a um plano futuro, é preciso conhecer a estrutura be + going to + verb, que é uma das possibilidades existentes em inglês para nos referirmos ao que planejamos fazer futuramente. Não tendo este conhecimento, a correta compreensão da interação pode ficar comprometida. Embora esta seja mais uma fonte de dificuldade no listening, não creio que ela seja tão relevante quantos aquelas discutidas acima, pois as lacunas gramaticais podem ser supridas por outros elementos. Por exemplo, uma conversa sobre o futuro geralmente contém algum tipo de indicação temporal, como tomorrow, next week, in 2026 etc, que contribui para nossa correta compreensão do que se está discutindo.
Como desenvolver o listening: recursos e exercícios
Conforme já apontei no post sobre como melhorar o inglês sozinho, uma prática eficiente de listening deve ser feita com áudios curtos (entre 1 e 5 minutos), que sejam ouvidos várias vezes e que incluam exercícios de compreensão. Para isso, o melhor aplicativo que eu já encontrei é o Listen English Daily Practice. Ele tem milhares de conversas, sobre os mais variados assuntos, com diferentes sotaques e níveis de dificuldade (na página inicial do aplicativo, os iniciantes estão identificados nas opções “Beginner” ou “Level A”, os intermediários em “Level B1” e “Level B2”, e os avançados em “Level C1” e “Level C2”). Além disso, para cada conversa há uma série de questões de compreensão e a transcrição do diálogo. Sugiro a seguinte sequência de atividades:
1. Escolha uma conversa qualquer, cujo nível de dificuldade não seja nem fácil, nem difícil demais;
2. Escute-a uma vez e tente responder as questões propostas. Ouça pela segunda, terceira e, se necessário, quarta vez, tentando responder as questões de compreensão a cada nova escuta;
3. Verifique as respostas corretas e escute novamente, desta vez lendo a transcrição;
4. Se necessário, pesquise o significado de palavras novas para esclarecer os pontos da conversa que não tenham ficado claros para você;
5. Por fim, escute a conversa novamente, sem o auxílio da transcrição. O objetivo aqui é verificar se, após a leitura da transcrição e a pesquisa do novo vocabulário, sua compreensão da conversa terá melhorado.
Toda essa sequência pode ser completada em algo como 15 ou 20 minutos. Se feita regularmente (não necessariamente todo dia, mas, digamos, 3 ou 4 vezes por semana), essa prática pode apresentar ganhos significativos em pouco tempo.
O mesmo método pode ser adotado com as conversas disponibilizadas pela série 6-minute English, da BBC. Embora estes áudios tenham uma duração um pouco mais longa, a velocidade da fala costuma ser razoavelmente lenta, de modo que você não precisará ouvi-los tantas vezes quanto o faria no caso de conversas mais rápidas.
Outra opção é utilizar vídeos do YouTube. Neste caso, você não terá exercícios para completar, mas, fora isso, a sequência é a mesma:
1) Escolha um vídeo de seu interesse (por exemplo, algo de sua área profissional) e que tenha a opção de legendas (CC). É importante que seja algo curto, de não mais que 5 minutos;
2) Assista-o entre duas e quatro vezes, sem pausá-lo e sem legendas;
3) Assista-o novamente, desta vez com as legendas ativadas. Sinta-se à vontade para pausar e pesquisar novas palavras;
4) Veja uma última vez, sem as legendas.
Assistir filmes e séries é uma boa forma de praticar listening?
Minha resposta a essa pergunta é sim e não. Sim, porque assistir conteúdo em inglês nos coloca em contato com o idioma e nos permite, por exemplo, conhecer sotaques diferentes. Além disso, não apenas aprendemos novas palavras e expressões, mas também reforçarmos o conhecimento daquelas que já havíamos ouvido e que, a cada nova utilização, tornam-se mais familiares aos nossos ouvidos.
Mas eu também responderia que não, principalmente por causa do objetivo que nos leva a assistir séries e filmes. Buscamos esse tipo de conteúdo para momentos de lazer e relaxamento, não para estudo. Este último exige método, concentração e esforço, coisas que são a antítese do lazer. Por isso, quando os alunos me perguntam se devem assistir a filmes sem legendas ou com legendas em inglês, minha resposta é: se isso não atrapalhar seu lazer, tudo bem. Agora, se você tem um nível iniciante e tenta assistir a um filme com legendas em inglês, seu momento de relaxamento será prejudicado e você não terá um grande ganho em termos de estudo. Neste caso, minha sugestão é que você assista ao filme com as legendas em português (ou mesmo dublado). Qualquer conhecimento adquirido nessa situação é bem-vindo, mas não é o objetivo principal da atividade. Isso posto, o fundamental é ter consciência de que desenvolver o listening exige atividades e exercícios como aqueles descritos na seção anterior, e não simplesmente a postura passiva que temos ao consumir conteúdos nos momentos de relaxamento.
That’s it, folks. Se vocês tiverem perguntas ou outras ideias para melhorar o listening em inglês, sintam-se à vontade para deixar um comentário abaixo. Aproveito também para colocar-me à disposição para ser seu professor de inglês particular. Atualmente trabalho com aulas individuais online e atendo alun@s em todos os cantos do Brasil e do mundo. Será um prazer ajudá-l@ a atingir seus objetivos! Regards, Daniel
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